A pergunta pode parecer tonta..., mas talvez não seja assim tão raro
encontrar situações em que isso aconteça. Pode até acontecer que só acrescente
custos.
São muitos os motivos pelos quais as organizações implementam e certificam
sistemas de gestão da qualidade;
- o mercado ou alguns clientes em concreto "exigem"
- os concorrentes todos (ou quase todos) já são certificados;
- os gestores da organização consideram que a organização "trabalha
bem";
- pretendem melhorar a sua forma de produzir (produtos e/ou serviços);
- pretendem criar regras para as suas equipas;
- pretendem aumentar o prestígio no mercado;
- pretendem aumentar a sua produtividade;
- pretendem melhorar a sua organização no seu todo e com isso aumentar o
seu desempenho a todos os níveis;
- alguns dos anteriores
- qualquer outro que não me tenha ocorrido.
Todas os motivos são legítimos. Existirão sempre circunstâncias que
justifiquem cada um.
O que às vezes passa despercebido é que motivos diferentes, implicam formas
de implementar diferentes e logo resultados diferentes.
E perante resultados inesperados podem surgir expressões como;
"Nós implementamos o SGQ a pensar que iríamos ter mais clientes por ser
certificados e isso não aconteceu" ou "disseram-nos para fazer assim,
mas isso rouba-nos muito tempo" ou outras com o mesmo tipo de desabafo.
E quando o sentimento é este, ... que fazer?
Ficar no limbo a ver se passa, pode não ser uma boa opção.
Se há uma insatisfação declarada, há que identificar motivos e depois ações.
Sem conhecermos a situação em concreto é pouco provável que consigamos
saber quer uns (motivos) quer outras (ações).
A título de exemplo o motivo pode estar relacionado com a motivação que
levou à certificação e em consequência à forma como o sistema de gestão da
Qualidade foi implementado. Que até podem ter sido válidos á data que a decisão
foi tomada.
As circunstâncias mudam a cada momento, é necessário mudar com elas.
Quanto às ações a tomar, dependerão sempre de qual é o motivo, mas a título
de exemplo podem passar por;
a) Reformular o SQG.
REFORMULAR. Não estou a falar de corrigir um
procedimento ou outro pois isso é o normal.
Reformular implica repensar tudo:
- será que é conhecida a
realidade da organização, quais as suas fraquezas, quais as sua forças,
que ameaças enfrenta, que oportunidades tem ao seu dispor?
- será que os processos definidos
são de facto os adequados para a realidade da organização? Será que os
indicadores definidos efetivamente medem desempenho e são usados para
melhorar as decisões? Será que os riscos são conhecidos e tratados? Será
que os gestores dos processos dinamizam o SGQ no mínimo ao nível do seu
processo?
- Será que o sistema documental
está definido de forma a ser uma ferramenta em vez de uma biblioteca de
burocracia? Será que as pessoas participaram / participam na
definição das metodologias? E conhecem-nas? E sabem quais as consequências
de não cumprir as metodologias definidas?
- Será que as metodologias
definidas para cumprir os requisitos da NP EN ISO 9001 estão integradas no
sistema de gestão da organização? Dito de outra forma; no dia a dia da
organização?
- …
b) Abandonar a opção certificação
Ter um certificado, só por si, não é garantia de que se venda mais. Existem
organizações cujos mercados e respetivos clientes não dão preferência a
empresas certificadas.
Por estranho que pareça a algumas pessoas, existem organizações não certificadas que tem
negócios altamente rentáveis. Algumas delas, cumprem muitos dos requisitos da
NP EN ISO 9001 de forma natural.
Por outro lado, nem todas as empresas certificadas aproveitaram a
implementação da NP EN ISO 9001 para repensar a sua forma de estar, para
refletir sobre as metodologias usadas e aplicar ferramentas que possam promover
a melhoria e o desempenho da organização. Algumas até criaram um sistema
paralelo para responder a alguns dos requisitos, aumentando assim a burocracia e
o tempo despendido.
Se ao nível da gestão não forem identificadas as vantagens de fazer
diferente, não faz sentido gastar dinheiro em auditorias (internas e externas),
em formação e outras despesas associadas. É um investimento com retorno
negativo.
Ah, …, mas isso é uma visão curta. Até pode ser, mas é uma escolha.
Legítima, desde que seja consciente.
c) Manter a implementação do SGQ e abandonar a certificação
Obter uma certificação implica o cumprimento de todos os requisitos da NP
EN ISO 9001, exceto os não aplicáveis.
Verdade que a maioria destes requisitos levam à implementação de boas
práticas de gestão e por isso são capazes de trazer retorno positivo. Se se
fizer uma reflexão sobre eles para encontrar a melhor forma de os cumprir e se
os conseguirmos integrar no dia a dia da organização, sem ser mais uma obrigação
extra. Nem sempre é fácil fazer isso para todos os requisitos.
Mas as organizações podem implementar um sistema de gestão da qualidade e
cumprir somente os requisitos que fazem mais sentido para a sua realidade. Ou
podem começar pelos que são mais necessários e ir avançando aos poucos.
E, se não pretenderem certificar, esta é uma opção válida.
Não terão um sistema da qualidade completo, mas terão o que lhe fizer útil no momento.