sábado, 6 de novembro de 2010

Gestão da Qualidade

Olá Lurdes,
Antes demais gostava de lhe agradecer por dedicar algum do seu tempo esclarecendo duvidas sobre sistemas de gestão da qualidade, manifestando a sua opinião, ponto de vista, que ajuda e muito o entendimento de certas questões...

Estive até á presente data a realizar uma formação de 1000 e não sei quantas horas de técnico da qualidade, gostei bastante da formação, usei o seu blog por muitas vezes para ter uma segunda opinião, e tenho-lhe muito a agradecer.

Neste momento, estou a fazer pratica em contexto de trabalho, e o que tenho verificado até agora é que não tenho muita dificuldade em realizar o trabalho proposto, tenho é verificado que isto dos sistemas de gestão de qualidade é um bocado "para inglês ver", porque a empresa certifica-se para ter acesso a novos mercados, e sem sem isso não tira proveito da certificação e das ferramentas ao seu dispor...e como as coisas são feitas mesmo assim, para auditor ver, não apostam em pessoas com formação para ocupar cargos de técnico da qualidade, mas sim um administrativo(a) qualquer, sem conhecimentos de qualidade que faz o trabalho...

Não existe mercado para técnicos de qualidade, e isso faz-me sentir que comprei a banha da cobra, porque não existem ofertas de emprego, e as que existem querem pessoas com experiência de 2 anos...mas sendo assim, como é que eu ganho experiência de 2 anos se nem trabalho encontro?

É triste esta cultura de "não-qualidade" em empresas certificadas em qualidade....

Isto é só uma opinião, de quem gosta da qualidade, mas não tem oportunidade de exercer...=(

Obrigado

xxxxxxxx

Olá boa noite,

Tenho dificuldade em responder-lhe,... é que tenho para aqui um "nim" como resposta.

Antes de mais deixe-me só fazer um esclarecimento que pode ser importante. Pode parecer preciosismo,... mas ok, faço na mesma.

Técnico de Qualidade pode não ser um profissional da área da qualidade. É um técnico com qualidade (bom profissional). O profissional da qualidade é o Técnico da Qualidade. O mesmo se passa com com o Sistema de Gestão. É o Sistema de Gestão da Qualidade. Se é um Sistema de Gestão de Qualidade ou não, ... só depois de analisado é que saberemos. :)

Preciosismos à parte vamos ao resto.

Os profissionais da Qualidade, como já referi várias vezes neste blog não tem vida fácil. Com frequência, são vistos como um custo a mais, como alguém que empata o trabalho dos outros,...

Às vezes também são estes profissionais que não fazem tudo o que é necessário...

O responsável pela qualidade é, acima de tudo, alguém que consegue influenciar os outros de forma que eles façam, voluntariamente, aquilo que não queriam fazer.

Parece impossível, eu sei. Mas acredite que não é! É difícil, muito difícil, mas é possível.

E existem alguns cuidados que devemos ter para facilitar esta árdua tarefa. Por exemplo:

  • O Gestor de Topo tem que "estar ganho". Não é possível convencer as pessoas da importância do que queremos fazer e implementar se atrás de nós (ou até antes) o Gestor de Topo não disser o mesmo;
  • Todas as pessoas da organização tem que estar ganhas - gestor da qualidade é um diplomata. Tem que saber relacionar-se muito bem com todos, sendo agradável mas rigoroso na sua actuação. Quem implementa são as pessoas, se não estiverem connosco vão sabotar o processo;
  • Humildade deve juntar-se aos anteriores - não podemos saber tudo. Ninguém sabe! Mas precisamos de entender os vários processos e a organização no seu todo. E isso não se conhece "olhando de cima".
  • simplicidade e flexibilidade devem ser os pilares de toda a actuação - Devemos definir a ajudar a definir metodologias simples sob pena da sua implementação estar condenada ao fracasso. Sempre que as metodologias não resultarem deve existir flexibilidade suficiente para encontrar outra alternativa;

Resumindo, é verdade que algumas empresas jogam ao "faz de conta" da qualidade, ... só se enganam a elas próprias. Nós que somos os profissionais dessa área temos que tentar inverter essa situação. É esse um dos nossos papeis.

Imagino que se esteja a perguntar se eu, enquanto Gestora da Qualidade, consegui ter este papel. Umas vezes sim, outras não. Aliás ainda hoje é assim. Com algumas organizações consigo desenvolver projectos fantásticos com outras o resultado fica aquém do que desejaria. E isto quer na consultoria quer na formação. Uma coisa é certa faço sempre o meu melhor e isso deixa-me dormir de consciência tranquila.

Aliás posso referir a ultima situação que me aconteceu. Fui fazer formação para uma empresa certificada. O objectivo era sensibilizar para a Qualidade. Tive na mesma semana três grupos diferentes. Formandos que se queixaram desde do primeiro ao ultimo minuto - só falavam dos direitos que deveriam ter e que a organização não lhes estava a dar. . Alguns falavam com tanta raiva da empresa que lhes pagava que até me fazia confusão. Um deles entrou na sala dizendo que eu o deveria deixar sair porque a empresa o tinha obrigado a ir à formação e que antes de começar me ia dizer que não queria estar ali.

Estas pessoas até poderiam ter razão, mas a atitude que tiveram impediu-os de ouvir uma única palavra... Podiam ter aproveitado para aprender alguma coisa sobre um tema que é cada vez mais universal mas essa não era a vontade deles... eu não posso obrigar ninguém. Expliquei como se eles estivessem muito interessados. Como sempre tentei que a formação fosse divertida e em linguagem simples, mas estou certa que ficou o mínimo dos mínimos.

Vi para casa estafada. Cansa muito ver pessoas que perante as dificuldades assumem a atitude do queixume e não a de ir à luta... mas eu fiz na mesma o meu melhor. Vi cansada mas de consciência tranquila.

A vida é mesmo assim. Umas vezes parece que os Deuses estão todos do nosso lado, outras o nosso caminho tem tanta pedra... mas há por aí uma expressão que diz: "Pedras no caminho? Guardo-as todas, um dia vou construir um castelo."

E quanto ao emprego,... sim é verdade que as ofertas não são muitas. Nem nesta área nem noutras - salvo raras excepções. E também é verdade que muitos anúncios pedem coisas incompatíveis ou seja pedem poucos anos e muita experiência...:)

E a verdade mesmo,... é que a formação teórica é isso mesmo, como se faz, só mesmo no terreno - para quem quer aprender, claro.

Não sei se lhe posso dar uma sugestão. Tente estar o mais possível no terreno de forma a complementar o que aprendeu na teoria. Mesmo que inicialmente não ganhe muito com isso. O tempo encarregar-se-á de lhe dar o que merece!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A Formação,... mais uma vez

Olá Célia,



sou responsável por fazer a avaliação da eficácia da formação no meu serviço.


Gostava que me indicasse qual a melhor maneira para fazer o tratamento dos dados.


Fazemos a avaliação da formação, no final de cada curso e a avaliação do formador, 3 meses depois enviamos o inquérito da avaliação da eficácia da formação aos dirigentes. A média final da formação é o total dos 3 inquéritos?

Obrigado

Sónia


 
Olá Sónia,
 
Eu sou a Maria de Lurdes :)
 
Já abaixo deixei dois textos sobre este tema. Estou convencida que em relação às várias fases, transmitem aquilo que penso.
 
Vamos ver se consigo fazer o mesmo em relação à sua questão.
 
De facto a avaliação da formação só fica completa depois de cumpridas as várias fases descritas no último texto que escrevi sobre o tema.
 
No entanto cada fase avalia coisas diferentes. Quando pedimos aos formandos para manifestarem a sua opinião sobre a formação, o formador, a sala, os meios,... estamos a avaliar a forma como ela foi realizada(se os meios  e o tempo foram os adequados) e a prestação do formador.
 
Quando pedimos ao formador que se manifeste sobre os formandos, estamos a avaliar os formandos - o interesse que demonstraram, a sua participação, a pontualidade,... depende o que perguntamos,... mas é sempre em relação aos formandos.
 
Quando pedimos às hierarquias que se manifestem sobre o impacto que a formação teve nos seus colaboradores estamos a avaliar a eficácia da formação, ou seja que resultados teve a formação. Só é possível tirar conclusões se fizermos esta avaliação antes da formação e algum tempo depois(este tempo é variável consoante o tema). Caso contrário não consigo comparar entre o "antes" e o "depois".
 
Resumindo: o conjunto das várias fases é o resultado da avaliação da formação, mas cada fase avalia coisas diferentes.  A avaliação da eficácia pode ser, numa primeira, fase conforme descrito no paragrafo anterior.