quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Revisão ISO 9001 - ponto de situação

Estou muito desiludida. Continuo desiludida com o resultado em curso. Pouco ou nada se muda. 

E isso tem que ser mau?

Não, não tem. 

Efetivamente a ISO 9001 é uma excelente norma, por isso não vejo necessidade de grandes alterações. Todos os temas que foram falados por aí, como necessários, são mais uma moda que uma necessidade. Não há necessidade de incluir todos os temas na ISO 9001, mais ainda quando existem normas para quase tudo, nomeadamente; normas de sistemas de gestão.

O que tem mal não é as alterações serem quase nada, o que não fez assim muito sentido, foi forçar a revisão porque havia urgência… e afinal… como diria o outro… a montanha pariu um rato.

Era muito interessante que se pensasse mais nos utilizadores das normas que são todas as pessoas comuns que trabalham em empresas comuns. Era importante escrever de forma entendível para todos, mais do que qualquer outra coisa.

Agora que já desabafei o meu sentir, vamos ao que interessa mas com prudência.

Neste momento estamos na etapa DIS (DRAFT International Standard), o que, entre outras coisas, significa que ainda poderão existir alterações, mais ou menos significativas, ao conteúdo desta etapa.

Como fica claro pela introdução que fiz, na minha opinião, as alterações incluídas nesta etapa são pouco significativas e muito menos terão grandes alterações no dia a dia das organizações.

Vou começar por uma das coisas que mais me agrada; a clarificação de algumas expressões, que, como estavam na versão anterior criavam alguns mal-entendidos. Não tem, propriamente alteração no significado nem na exigência, mas clarificam.

É o caso das expressões informação documentada a manter e informação documentada a reter que passam a estar escritas como; deve estar disponível informação documentada e informação documentada deve estar disponível como evidência de…, respetivamente, tornando bem mais claro aquilo que se pretende.

Ainda no campo da informação documentada é esclarecido que o termo “disponível” significa que a organização pode obter, utilizar ou fornecer as informações.

Para além destas expressões, o Anexo A clarifica outras expressões usadas regularmente ao longo do texto da norma, como sejam;

  • Apropriado e aplicável; o primeiro é usado com o significado de adequado(para) e implica algum grau de liberdade, enquanto o segundo é usado com o significado de relevante ou possível de aplicar e implica que se algo pode ser feito então tem que sê-lo.
  • Considerar e levar em conta; o primeiro é usado com o significado de; é necessário refletir sobre o tópico, mas não tem obrigatoriamente que ser incluído enquanto o segundo é usado com o significado de é necessário pensar sobre o tópico e precisa ser incluído
  • Continuado e contínuo; o primeiro é usado com o significado de; duração que ocorre ao longo o tempo, mas com intervalos de interrupção e o segundo com o significado de; duração sem interrupção.

        Conclui ainda esta clarificação, que continuado é a palavra apropriada para usar quando         se fala de melhoria.

Podemos ainda encontrar no Anexo A um esclarecimento sobre cada uma das cláusulas e subcláusulas da Norma, uma espécie de explicação em formato reduzido.

Foi eliminado o ANEXO B que continha a lista de normas relacionadas. Esta Lista apresenta-se agora na Bibliografia.

Alterações às secções, cláusulas e sub-cláusulas;

Na Introdução é eliminado o 0.3.3 – Pensamento baseado em risco.

A secção 3 - Termos e definições que na versão anterior remetia para a ISO 9000, passa a incluir algumas definições, seguindo o exemplo de outras normas de sistemas de gestão. 

Na secção 4 - Contexto, são introduzidas três alterações, sendo que duas delas, já se encontram em vigor, pois foram publicadas através de uma adenda, a saber:

4.1 Compreender a organização e o seu contexto, passa a incluir; A organização deve determinar se as alterações climáticas são uma questão relevante.

Também em 4.2 Compreender as necessidades e as expetativas das partes interessadas, aparece uma Nota referindo que; as Partes interessadas podem ter requisitos relacionados com alterações climáticas.

Já manifestei a minha opinião sobre esta adenda. Mas ainda assim volto a referir; as organizações que fazem uma determinação do contexto de forma séria, quando o fazem, determinam todas as questões relevantes, sejam elas de que âmbito forem. Não faz pois sentido, estar a forçar este tema. Então porque não colocamos também uma alínea para as questões políticas, de mercdo, culturais, etc?Quando muito poderia ser acrescentado na Nota. 

O mesmo para os requisitos das partes interessadsas(4.2), se a organização o fizer de forma séria, identificará todas os requisitos relevantes, se existem requisitos relacionados com as alterações climáticas e forem relevantes os mesmos são considerados.

Para quem faz de forma séria, isto não acrescenta nada. E para os outros também não, se não faziam, continuarão a arranjar argumento para não fazer.

Mas é o que é, está escrito não deixa dúvidas. Só vejo esta vantagem.

Para além do conteúdo anterior, em 4.2;

- é eliminado o texto introdutório que falava da importância das partes interessadas mas não definia nenhuma exigência. De facto não acrescentava nada.

-  passa a ser necessário tomar uma decisão quanto à abordagem (ou não) dos requisitos das partes interessadas no Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) , acresce alínea c),

A organização deve determinar:

a) as partes interessadas que são relevantes para o sistema de gestão da qualidade;

b) os requisitos destas partes interessadas que são relevantes para o sistema de gestão da qualidade.

c)  quais desses requisitos serão abordados no SGQ


 5.1 Liderança e comprometimento

5.1.1 Geral

Para a gestão de topo passa a ser clara mais uma exigência;

...

i)                 Promover a cultura da qualidade e o comportamento ético


Surge uma nova Nota como clarificação - NOTA 2 A cultura da qualidade e o comportamento ético de uma organização são refletidos nos seus valores, atitudes e práticas estabelecidas e compartilhadas


6.1.2 Ações para tratar riscos

Tanta coisa se falou sobre isto e, afinal a única coisa que foi feita foi dividir a subclausula existente em duas; o que antes se designava Ações para tratar riscos e oportunidades,(6.1.2) agora passam a ser duas subcláusulas: 6.1.2 – Ações para tratar riscos e 6.1.3 – Ações para tratar oportunidades. O mesmo acontece com as Notas: na versão anterior estavam as duas seguidas, agora passa passa a existir uma para riscos em 6.1.2,  e outra  para oportunidades no 6.1.3.

O conteúdo mantém-se, mas em subcláusulas separadas.

Eu sei que há quem diga que muda muito aqui, porque agora é dada importância às oportunidades e não só ao risco. Na verdade não me parece que acrescentar um título seja capaz de fazer isso.


6.3 Planeamento das alterações

Tal como refere o título a exigência é sobre o planeamento das alterações ao SGQ, mantém-se a exigência base; planear as  alterações.

São acrescentados alguns tópicos a considerar no planeamento;

...

- c) a disponibilidade de recursos e informações - acrescenta; informações,

-  e) como a eficácia das mudanças será monitorada e avaliada;

-  f) comunicação das alterações;

-  g) como rever os resultados das alterações.

 

7.1.3 Infraestrutura

Somente é acrescentado na Nota; Para todo o tipo de trabalho (por exemplo, no local, remoto ou uma combinação destes), a infraestrutura pode incluir;

Só clarifica, tudo o resto mantém-se.

 

7.1.4 Ambiente para a operacionalização dos processos

Mais uma situação em só a Nota é acrescentada, neste caso com;  Alguns fatores dependem da cultura da qualidade organizacional, incluindo o comportamento ético.

 

7.1.5 Recursos de medição e monitorização

Mais propriamente em 7.1.5.2 alínea b) clarifica que a identificação do estado do equipamento é referente ao estado da calibração ou verificação, dizendo; b) identificado para determinar seu estado de calibração ou verificação;

 

7.1.6 Conhecimento Organizacional

As duas Notas fundem-se numa só, com o mesmo conteúdo.

 

7.3 Consciencialização

A necessidade de os trabalhadores estarem consciencializados passa a ser sobre mais um tema; e) cultura de qualidade organizacional e comportamento ético.

 

8.1 – Planeamento e controlo operacional

Aparentemente parece alterado, mas observando melhor as alíneas mudam de ordem, mantém-se o conteúdo.

 

8.2.1 Comunicação com o cliente

Clarifica a alínea sobre ações de contingência;

e) informações relacionadas a ações de contingência, incluindo, quando relevante, quaisquer interrupções nos produtos ou serviços fornecidos.

 E acrescenta Nota;

NOTA: A comunicação com o cliente pode incluir contatos diretos por meio de reuniões, e-mails e troca de documentos ou indiretamente por meio de conteúdo de website, publicações, redes sociais, respostas a perguntas frequentes e formação.

 

 8.3 Design e desenvolvimento de produtos e serviços

8.3.1 Geral

Acrescenta uma Nota;

 NOTA: O processo de design e desenvolvimento pode incluir ciclos de revisão, verificação, validação e feedback, permitindo flexibilidade ao longo das fases de design e desenvolvimento.

 

8.3.3 Entradas de design e desenvolvimento

Acrescenta uma Nota;

NOTA: As entradas de design e desenvolvimento nem sempre são totalmente definidas ou conhecidas inicialmente. Em vez disso, elas podem evoluir à medida que o design avança, por meio de ciclos repetidos de desenvolvimento e validação.

 

8.4.3 Informações para fornecedores externos

Acrescenta a necessidade de, quando aplicável comunicar ao fornecedor as interações com outras partes interessadas

d) as interações dos fornecedores externos com a organização e, quando aplicável, seus clientes e outras partes interessadas relevantes;

 

8.5.1 Controle da produção e prestação de serviços

Acrescenta uma nota;

NOTA: Para garantir que os requisitos definidos sejam satisfeitos, as organizações podem optar por desenvolver atividades de verificação de produtos e serviços ou de validação de processos, ou ambas, conforme apropriado.

 

- 9.2.2 Programa de auditoria interna

Acrescenta que devem ser definidos os objetivos para cada auditoria;

- A organização deve:

- a) definir os objetivos, os critérios e o âmbito da auditoria para cada auditoria;

 

 9.3.2 Entradas da revisão pela gerência

Acrescenta nova entrada;

c) alterações nas necessidades e expectativas das partes interessadas relevantes para o sistema de gestão da qualidade;

 

10.1 – Melhoria continuada

Funde 10.1 1 10.3 anteriores

bem analisado, a mudança é só na palavra conínua que muda para continuada. Mantém restante conteúdo das cláusulas da versão anterior, embora reorganizando o texto.

No anexo A, clarifica diferença entre melhoria contínua e melhoria continuada.

Reforço que estamos na fase DIS, o que aqui está escrito ainda não é totalmente fixo.

Na fase seguinte, FDIS (Final Draft International Standard) é expectável que o conteúdo, já seja mais estável e por isso mais próximo da versão final.  

Espera-se que a publicação ocorra no final de 2026, setembro.


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