segunda-feira, 17 de novembro de 2008

no mínimo questiono-me

Existem dias que fico muito triste... insegura se quiserem.
Hoje fui almoçar com um colega de profissão que já algum tempo me desafia para fazer uma parceria no que se refere à formação.
Juro que faço os possíveis para entender o que me tenta transmitir, mas assim que começamos a falar começamos a discordar. E isso não tem que ser mau, não podemos estar de acordo com toda a gente nem em todos os assuntos.
De qualquer forma deixa-me desconfortável.
A forma como ele entende o trabalho de consultoria é totalmente diferente da minha: ele entende que o consultor pode definir o Sistema de Gestão da Qualidade de um cliente por ele; ou seja, ele como consultor faz toda a documentação que o cliente precisa. Conversa com eles, e de seguida define tudo; Manual da Qualidade, Procedimentos, Formulários, registos a realizar, etc... Porque, segundo diz não considera necessário explicar à empresa os conceitos da Norma, até porque segundo ele a empresa não quer saber.
Eu, acho que o papel principal do consultor é explicar, apoiar, se necessário ajudar a fazer, mas acima de tudo ensinar a pescar, não dar o peixe. Quando damos o peixe, se deixarmos de dar, a pessoa morre de fome porque não sabe pescar. Ou no mínimo vai comprar, seja lá a quem for.
Estas conversas por vezes deixam-me na dúvida. Será que estou certa quando quero ensinar a pescar? será que não estou a ser demasiado exigente quando quero transmitir aos meus clientes conhecimentos suficientes para que eles possam fazer por si, para que no futuro possam continuar sem mim?...
Quando ouço estas afirmações tão convictas,... no mínimo questiono-me.

4 comentários:

  1. Maria de Lurdes, permita-me a ousadia de lhe chamar "Idealista". Idealista pelo facto de acreditar em algo que pura e simplesmente não serve os interesses da maior parte dos gestores (há excepções, poucas, mas há). Eu pessoalmente defendo o seu método de trabalho, quando considera que a melhor forma de ensinar é transmitindo os conhecimentos sobre o melhor método para apanhar o peixe e depois deixar que o interessado o aproprie para assim valorizar e saborear o tão desejado peixe. Mas infelizmente nem sempre o consigo aplicar, dadas as barreiras que tenho de ultrapassar.
    Este método não interessa aos gestores, eles pretendem um SGQ implementado e que seja suficientemente "bom" para que os auditores dêem o seu parecer favorável permitindo a obtenção do tão desejado certificado de conformidade.
    "Porque, segundo diz não considera necessário explicar à empresa os conceitos da Norma, até porque segundo ele a empresa não quer saber."
    E será que ele não tem razão? Não é isso que se passa constantemente? O SGQ fica sempre para 2º plano. O Responsável pelo SGQ que resolva…
    A Maria de Lurdes deve saber que muitos dos auditores que colaboram com as entidades certificadoras são também consultores liberais. Esses senhores elaboram SGQ pré-definidos que são implementados em várias empresas. A base é sempre a mesma, sendo apenas necessário fazer uns pequenos ajustes para que se possam integrar na estrutura organizacional onde são implementados. Mas esses Sistemas não funcionam, são uma farsa.
    É uma situação triste e mais triste para quem todos os dias tem de se confrontar com sistemas destes, mas é a realidade e temos de ser fortes e lutar com convicção para que possamos inverter essa tendência.
    Espero que este meu comentário não coloque o seu estado de espírito ainda mais em baixo. Mas penso sinceramente que não acontecerá, dado que a Maria de Lurdes é uma pessoa com princípios bem definidos e que jamais se irá intimidar com tais constatações.
    Sinta apenas que não está só... e que outros se debatem com a mesma situação diariamente.
    Cumprimentos.

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  2. Olá Caro Resp. SGQ,
    De facto eu reconheço que vejo a qualidade num patamar onde ela não está, pelo menos na maioria das empresas.
    Não sei porquê mas estou plenamente convencida que tudo seria bem mais fácil se os gestores vissem a qualidade como parte integrante do seu sistema de gestão. Se assim fosse, os clientes(ou potenciais) de consultoria quereriam aprender a pescar... e os Responsáveis da Qualidade teriam a vida bem mais facilitada...
    Mas não é! E o facto de não ser não me faz desistir... Pela parte que me toca só fico feliz se ajudar a empresa a ser melhor, mais conhecedora, mais forte,...
    Mas... como diz, estamos todos os dias aí... e nem sempre fico feliz. Umas vezes consigo outras não. Faz parte da Vida!
    Ainda assim quero fazer parte do grupo que pretende inverter a tendência. Conto consigo nesse grupo!
    Felicidades.

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  3. Bem aqui temos que considerar vários factores importantes que no fundo são a realidade no nosso país (porque essa como consultor é a que conheço):

    - Organizações orientadas para os objectivos financeiros;
    - Consequentemente gestores interessados na certificação como instrumento de "venda" da própria empresa - não tem tempo nem interesse em "mexer" seriamente nas suas organizações;
    - O Gestor da Qualidade (GQ) não está alocado unicamente à Qualidade e muitas vezes não possui competências para ser GQ (administrativos, financeiros, técnicos sem qualquer formação/ sensibilidade para as questões base);
    - Geralmente os projectos de implementação tem pouco tempo alocado, quer para a concepção do Sistema, quer para sua comunicação e implementação. Num ano (tempo médio) torna-se apertado identificar pontos fracos e necessidades, conceber de raiz, formar, implementar e avaliar antes da auditoria de concessão;
    - O negócio que se tornou a Qualidade. O Consultor tem de criar a necessidade junto do cliente que ele próprio é necessário. Erradamente ele tem de ser quem tem sempre a resposta e não ajudar a chegar até ela... é por isso que existem tantos consultores e especialistas em Qualidade em Portugal, que nem sequer conseguem explicar o conceito básico de Qualidade.

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  4. Claro que subscrevo totalmente Santinni,

    Só lhe posso dar os parabéns pela forma como apresenta a questão.

    Vamos tentar mudar algumas coisas, nas organizações com quem colaboramos. Pelo menos naquelas em que querem melhorar de facto!

    Votos de muito sucesso!

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