Boa noite, chamo-me ...
Estou a contactá-la na qualidade de formando de uma turma de um curso EFA com dupla certificação que dá acesso ao 12º ano e saída profissional como Técnico da Qualidade.
Como tal, quando fazemos pesquisas sobre este tema e então invariavelmente passamos por este blogue e encontramos muita matéria interessante.
Gostava de saber a sua opinião devido á diferença de estudar num EFA de 2045 horas e tirar essa saída profissional no sistema normal de ensino. Será que estamos menos preparados para o mercado de trabalho?
Obrigado pela atenção.
Olá,
Ando há muito tempo com vontade de escrever sobre o tema, mas... tenho evitado fazê-lo... O que possa dizer não vai mudar nada... pelo menos não, naquilo que me parece essencial.
Como sabe, entre outras coisas, sou formadora. A formação que faço é sempre para adultos. Integrados nos EFA (Educação e Formação para Adultos) a que se refere fiz pouca coisa, mas tenho opinião formada, não só pelas acções que ministrei mas também pelas experiências que me relatam os amigos e colegas formadores.
Só para esclarecer eu pessoalmente fiz duas acções: uma para um curso de Qualificação de Técnico de Controlo da Qualidade Alimentar e outro para um de Técnico da Qualidade.
Ainda dentro deste âmbito tenho ministrado algumas acções ao abrigo da Formação Modular.
Os formandos destes cursos, como se sabe, são pessoas que abandonaram os estudos, alguns deles há muitos anos atrás e, talvez por isso tem muitas dificuldades de aprendizagem. Na maioria. Não quer dizer que não existam excepções.
Mas estes dois cursos de qualificação em que participei tinham grupos completamente diferente.
Um deles que referi aqui - O que se aprende com os formandos de 27 de Novembro de 2008 -, era constituído por pessoas com bastantes dificuldades(de aprendizagem e outras), mas pessoas interessadas, que queriam fazer coisas, que queriam aprender, que queriam lutar por uma vida melhor. E quando é assim as dificuldades ultrapassam-se. O que queremos mesmo é que sejam bem sucedidos. E com esse objectivo fiz de tudo: mudei a linguagem, os dispositivos, os exercícios, ouvi-os,... Não executei o programa com a profundidade que gostaria mas no fundo saí contente e acho que daquele grupo vão sair pessoas que poderão ingressar no mercado de trabalho.
O segundo tem em comum as dificuldades mas a atitude era completamente diferente. Era um grupo de jovens que achava que tem todos os direitos do mundo em troca de nada.
... ouvir o que eu dizia era muito chato, participar dava trabalho, fazer exercícios era uma chatice, ouvir histórias que costumo contar para fazer analogias dava sono... O que sabiam fazer mesmo bem era reclamar... dos professores da escola, da coordenação, uns dos outros, do estado que lhes dava pouco subsidio,..
Não me parece que nenhum destes formandos possa ingressar no mercado de trabalho. Eu se tivesse uma empresa não os queria lá nem que o estado me pagasse para isso... e muito menos na área da Qualidade.
Mas a verdade mesmo é que vão sair com essa Qualificação.
Quanto às Formações Modulares sempre correram muito bem. A acção de que deixei fotos há uns dias era Formação Modular. São pessoas que se inscrevem porque querem, nos temas que querem e que lhes são úteis. Tenho tido boas experiências.
Falta dizer que os programas destas acções estão desenhados para dar as várias qualificações, ou seja para capacitarem os formandos para serem Técnicos da Qualidade ou de outra coisa qualquer. A questão é que os formandos que ingressam estes cursos não tem o nível de escolaridade que lhes permita assimilar tais conhecimentos. Quando existe motivação é possível que aprendam coisas importantes mas nunca o programa na totalidade. Ou pelo menos não em profundidade.
O que me parece é que alguém está a querer trabalhar para a estatística... Mas não é só neste tipo de ensino, nem é só no ensino...
Como diria a outra; isso agora também não interessa nada!
Será melhor este sistema ou sistema normal de ensino? Ficam preparados para o mercado de trabalho?
Como sabemos o ensino em Portugal, seja lá ele qual for, não está direccionado para o mercado de trabalho. Salvo raras excepções em alguns temas muito específicos.
Na escola e posteriormente na universidade podemos aprender muitas coisas. Muitas coisas indispensáveis, é verdade. Mas a realizar a função para a qual tiramos um curso só aprendemos no terreno. Se tivermos humildade (que é uma coisa em vias de extinção...) para querer aprender.
As situações que referi, ao abrigo do mesmo tipo de ensino, são completamente diferentes.
Nisto tudo o que faz a diferença é a atitude. A atitude perante o curso que está a frequentar, a atitude perante a pesquisa de situações em que possa treinar no terreno, a atitude quando entrar para a função,...
O mercado de trabalho quer pessoas proactivas e responsáveis. Pessoas que estejam disponíveis para trabalhar(não para ter emprego), para aprender, para ensinar, para partilhar conhecimentos, para ir à luta...
E isso não depende só da escola ou do tipo de ensino que frequentamos. Depende só de cada um!