quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Quem gosta, gosta, ... quem não gosta...

 Muito se fala em liberdade nos dias que correm. E bem.


Também muito se fala em assertividade . E bem. Mas como em todas as coisas é importante saber do que se fala.


Diz-se com alguma frequência que as palavras não ditas trazem doença e por isto devemos dizer tudo o que pensamos e sentimos. Há mesmo quem diga que não temos nada que nos preocupar se os outros gostam ou não, muitas vezes usando mesmo a expressão: quem gosta, gosta, quem não gosta temos pena!


Pois bem, de facto eu acredito que as palavras não ditas fazem um trabalho imenso em nós e na maioria das vezes não é nada positivo. E sim, eu também acredito e digo que devemos dizer o que pensamos e sentimos, sob pena do "não dito" nos atormentar a mente  e o corpo.


Mas nem toda  a liberdade que temos hoje, nos dá o direito de dizer tudo o que nos apetece da forma que nos apetece sem considerar o respeito que devemos ter pelos outros.


Há quem diga que pessoas assertivas são pessoas diretas. E sim, ser direto é uma das características da comunicação assertiva. Na verdade eu costumo dizer de outra forma mas na essência não estamos a dizer coisas muito diferentes. Eu costumo dizer que  a linguagem assertiva, entre outras coisas, tem por base a transparência da linguagem. Ela é verdadeira, ela é clara, é transparente, sem nada a esconder.


Mas outra característica da assertividade, não menos importante, é o respeito pelo outro, na sua totalidade. O respeito pelos seus sentimentos, pela sua cultura, pela sua história de vida, pelas suas crenças, pelos seus valores,...


Então, sim eu posso, e diria mesmo devo, dizer aquilo que penso e/ou sinto. Mas a título de exemplo isso não me dá o direito de chamar os outros de bestas, burros, incompetentes, ladrões, estafermos,....


Os outros têm o direito de pensar de forma diferente de mim, seja lá sobre que tema for, e não tenho que os ofender por isso.




Podem até estar a fazer coisas que eu ache completamente erradas, mas sou eu que acho,... não quer dizer que seja. Pode até ser que este meu achar se fundamente em artigos, livros, noticias,... que também elas, são só a versão do seu autor, seja ele quem for. Ah, mas aquela estação é muito credível,... ah mas aquele autor é doutorado,... ah mas é uma organização conhecida no mundo inteiro.... sim,... e... ?  Isso quer dizer que os outros não podem pensar de forma diferente deles?...


Se eu quero ter a liberdade de pensar o que penso, de sentir o que sinto e poder manifestar-me sobre isso sem ser ofendido/a, então também tenho que aceitar que os outros façam o mesmo.

Como todos sabemos até é comum dizer-se que a minha liberdade termina onde começa a do outro. 


Talvez também por isso, existe o código penal dedica alguns artigos a crimes relacionados com difamação,  injúria, calúnia,...

E, mesmo que hipoteticamente, os outros estejam a fazer algo que seja proibido, que seja crime público, sei lá .... tantos argumentos que usamos para dizer que os outros não tem o direito( e a liberdade) de fazer e dizer o que fazem ou dizem...


Mesmo que isso aconteça, mesmo que os outros estejam a fazer algo que seja proibido, que seja crime público,... eu posso manifestar-me, pedir que não façam,... mas quem sou eu para os ofender, para fazer justiça por mim?


Se falar sem desrespeitar não for suficiente, é minha obrigação informar as autoridades competentes. É para isso que elas existem. É por isso que vivemos numa sociedade livre mas com regras.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Qual a importância da Formação?

Para  responder a esta pergunta vou assumir que formação é processo para proporcionar e desenvolver conhecimentos, aptidões e comportamentos. É o processo que nos permite adquirir competências a diferentes níveis.
 
 
Na minha opinião ter competência é ser rico. Mas não é uma riqueza qualquer. É uma riqueza que nos torna livres, autónomos, capazes.
 
 

Como alguns já sabem, eu cresci num sítio montanhoso e isolado, local que pelas suas características naturais era muito propenso a incêndios.
 
 
Eu deveria ter aproximadamente dez anos quando ocorreu um grande incêndio no concelho. Começou por ver-se o fumo ao longe. As pessoas da freguesia deslocavam-se para ajudar os vizinhos, não só ajudando a apagar mas também levando comida e bebidas frescas.
 
 
O objectivo era apagar o mais rápido possível de forma a evitar danos e também de forma a assegurar que não chegasse a mais sítios como por exemplo aquele onde morava. Mas, o tempo não jogava a nosso favor. O vento soprava forte, alimentando as chamas e tornando tudo num inferno à nossa volta.O fumo era tanto que parecia ter escurecido. Não fora a claridade das chamas não seria possível vislumbrar um palmo à frente do nariz.
 
 
Perante tal cenário a minha mãe chamou-me a mim e à minha irmã e disse-nos:
     Não sabemos se conseguimos salvar a nossa casa, mas temos que salvar o maior valor que temos. Recolhei os vossos livros e ide levá-los ao túnel da horta. (O túnel da horta era um túnel subterrâneo existente entre duas terras que servia para escoar água no inverno. Tem altura para circular uma pessoa lá dentro e obviamente não existe lá nada que possa arder. No verão fica vazio). Depois fujam para dentro do tanque da água.
 
A minha mãe tem a 3ª classe, mas uma visão enorme!
 
Por isso quando falamos de competências e da forma de as atingir (por exemplo formação) falámos daquilo que nos permite ser ricos quer seja a título particular quer seja a título empresarial.


segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Revisão pela Gestão

A cláusula 9.3 é, com toda a justiça, considerada uma das cláusulas mais importantes da NP EN ISO 9001:2015.

Ainda assim nem sempre é bem interpretada… Por vezes a Revisão do Sistema é confundida com revisão do sistema documental (Manual da Qualidade, Procedimentos, Politica, etc.). De facto, é verdade que a maioria das vezes a Revisão do Sistema implica revisão de alguns documentos. Mas isso é uma consequência. 

A cláusula começa por clarificar que cabe à gestão de topo proceder à revisão pela gestão. Proceder, não é assegurar que alguém procede! digo eu :)

Rever o Sistema significa que, em datas planeadas, os gestores das Organizações se reúnem com o propósito de analisar o estado de saúde do Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ). Se quisermos o seu desenvolvimento. Essa análise pode incidir sobre todos os temas que a Organização considerar mas, deve analisar no mínimo os temas referidos em "Entradas..." 

A informação sobre estes temas deve ser sistematicamente compilada de forma que à data da reunião exista de forma a ser facilmente analisável. Não é boa prática levar para a reunião a pasta das auditorias ou de qualquer outro tema. Ou melhor não é boa prática levá-la sem levar o tratamento respectivo. 

 A informação recolhida pode (e na minha opinião deve!) incluir os seguintes detalhes 

a) o estado das ações resultantes das anteriores revisões pela gestão;

Seguimento de acções resultantes de revisões anteriores Fazer ponto da situação sobre acções que tenham tido origem na revisão anterior: foram ou não implementadas, resultaram ou não, ... 

b) alterações em questões externas e internas que são relevantes para o sistema de gestão da qualidade;

Referir se existiram alterações às questões internas e externas identificadas, quais foram e quais as implicações dessas alterações.

c) informações quanto ao desempenho e à eficácia do sistema de gestão da qualidade, incluindo tendências

relativas a:

1) satisfação do cliente e retorno de informação de partes interessadas relevantes;

Retorno da informação do cliente e outras partes interessadas:  Dados sobre insatisfação – reclamações e dados sobre outro tipo de informação – questionários ou outros. Análise relativa a quantidade, motivos, evolução no tempo, prazos de respostas de fecho das reclamações, etc.  

Dados referentes ao retorno das partes interessadas, por exemplo referentes à perceção da satisfação dos trabalhadores ou outras,...

2) medida em que os objetivos da qualidade foram cumpridos;

Referir se os objetivos foram ou não atingidos. Para os não atingidos analisar causas.

3) desempenho dos processos e conformidade dos produtos e serviços;

Desempenho dos processos e conformidade do produto - no mínimo dados relativos à medição e monitorização dos processos (indicadores e sua evolução) e dados relativos às Não Conformidades do produto/serviço  

4) não conformidades e ações corretivas;

· Não Conformidades e acções correctivas - Evolução das Não Conformidades e Acções Correctivas: estado do seguimento, quantidade abertas, fechadas, tempo de resolução, motivos mais comuns, reincidências, acções de melhoria desenvolvidas, etc.  

5) resultados de monitorização e medição;

Outros resultados de monitorização e medição não referidos em outros pontos.  

6) resultados das auditorias;

Resultados de Auditorias:  % de cumprimento do Plano de Auditorias, Número de Não Conformidades, Motivos das Não Conformidades, Não Conformidades Repetidas, Prazos de resposta a auditorias, Eficiência no fecho das Não Conformidades de Auditorias.  

7) desempenho de fornecedores externos;

referir resultados da avaliação de fornecedores e medidas tomadas nessa sequência 

d) a adequação dos recursos;

Analisar se os recursos usados no período a que a revisão respeita forma ou não os adequados e porquê.

e) a eficácia das ações empreendidas para tratar os riscos e as oportunidades;

Referir se as ações empreendidas para tratar riscos e oportunidades foram (ou não) eficazes. Referi o que foi feito em caso de ineficácia.

f) oportunidades de melhoria.

Recomendações que se pretendam deixar para melhorar o SGQ. 

Com base nos elementos anteriormente referidos deve ser feita uma análise profunda de forma a identificar se o Sistema de Gestão da Qualidade está a dar os resultados pretendidos. 

De acordo com a Cláusula cabe à gestão de topo proceder a estas revisão (análise profunda).

Com base na análise feita devem ser tomadas decisões que permitam a definição de um Plano de ações a implementar no período seguinte com vista a melhorar o SGQ.

É comum que participem desta revisão a gestão de topo, a gestão da qualidade e os Gestores dos processos.

É uma boa prática que esta reunião seja fotografada e a fotografia deve ser analisada na próxima revisão do sistema. Claro que a fotografia é figurada. O que pretendo dizer é que desta reunião deve ser realizada uma ata que testemunhe o evento e assegure o seguimento das decisões tomadas. Redija a ata referindo, no minimo, todos os temas que obrigatoriamente devem ser analisados. 

É que… como sabe em Qualidade não é suficiente dizer que fez, tem que provar que fez! 

Penso que facilmente se entende que este acto, se realizado com rigor, contribui de forma significativa para a melhoria do Sistema de Gestão da Qualidade.

Nota: artigo atualizado para a versão 2015.

domingo, 31 de outubro de 2021

Pormenores sem importância?



Se chegou há pouco à área da Qualidade esta poderá ser uma das suas dúvidas.

Há uns anos atrás escrevi um artigo para um Jornal nacional. O texto era sobre Sistemas de Gestão da Qualidade e suas vantagens.

Durante todo o artigo falei de várias coisas, ... falei do Sistema da Qualidade, da Política da Qualidade, do Manual da Qualidade(que à data ainda era obrigatório), dos objetivos da Qualidade,...

Não sei se já escreveram para órgãos de comunicação social mas regra geral acontece uma coisa gira; eles limitam-nos o texto dizendo que tem que ter no máximo n caracteres. Nós damos voltas e mais voltas para conseguir escrever o que pretendemos com a limitação que eles impõem. E depois preparamos-nos... porque a seguir eles escrevem à maneira deles, dão voltas ao texto, adulteram o sentido,... enfim, dizem eles que estão a fazer o trabalho deles.

Então nesse dito artigo, quando o Jornal saiu, afinal eu tinha falado do Sistema de Qualidade, da Política de Qualidade, do Manual de Qualidade, dos Objetivos de Qualidade,...


Claro que estes senhores alteraram porque eles acharam que, eu que supostamente fui convidada para escrever por ser da área, afinal não sabia o que estava a fazer,... digo eu que às vezes também tenho mau feitio...


O Sistema do qual falamos é o Sistema da Qualidade. Do tema Qualidade. Se ele é de qualidade ou não é o que veremos ao longo tempo.


O Manual do qual falamos é o Manual da Qualidade. Do tema Qualidade. Se ele é de qualidade ou não pode depender do tipo de papel, do aspeto, do conteúdo,...


Era destes que eu estava a falar. Do Manual da Qualidade, da Política da Qualidade, do Sistema de Gestão da Qualidade,...


E não, não é só uma coisa da minha cabeça. O título NP EN ISO 9001:2015 é Sistemas de Gestão da Qualidade, o título da cláusula 5.2 é Política da Qualidade, o título da Cláusula 6.2 é Objetivos da Qualidade e planeamento para os atingir,...


Por favor não chame Política de Qualidade à Política da Qualidade da sua empresa. Nem Manual de Qualidade ao Manual da Qualidade, nem, nem...

E acredite que isso pode ser um passo importante para que todos esses elementos sejam de Qualidade.

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Qual é afinal o significado do conceito Qualidade?

"
... Esta é uma questão a que a maioria das pessoas não sabe responder com rigor. 

Acredito no entanto que, apesar de a maior parte das pessoas não a saber definir correctamente, sabe identificá-la quando a vê ou sente. 

A este propósito, vou partilhar agora consigo uma pequena história… 

Eu nunca fiz parte daquele grupo de mulheres que arquiva no sótão, na garagem ou atrás da porta da casa de banho, uma imensidão de pares de sapatos e equiparados, que às vezes nem conseguem lembra-se daqueles que efectivamente têm. Gosto, no entanto, de ter os necessários e, acima de tudo, aqueles onde os meus pés se sintam confortáveis, o que, refira-se, não é fácil, especialmente em épocas em que se usam bicudos e estreitos e onde dificilmente entram pés como os meus (de plebeia).

Quando necessito de comprar um novo par, experimento sapatos e mais sapatos. As senhoras que me atendem esforçam-se (às vezes!!! …) por manter um sorriso mas, a pose cai totalmente quando, depois de experimentar dez pares digo: “Desculpe mas não vou levar, não gosto de os sentir no meu pé!...” 

No verão passado fiz uma romaria deste género à procura de sandálias. Depois de percorrer n cidades e x, y e z sapatarias lá encontrei umas que me agradaram. A senhora da loja fez questão de me dizer que com aquelas sandálias parecia ter pé de princesa e que ela própria trazia umas iguais calçadas. Eram, segundo as suas palavras, super confortáveis e resistentes. Comprei as sandálias plenamente convencida de que tinha feito uma grande aquisição. 

Calcei-as no dia seguinte. A manhã correu normalmente e eu estava encantada com elas. Eram extremamente confortáveis e, de facto, o meu pé nem parecia meu... Mas este encanto foi sol de pouca dura. Quando regressava do almoço, à saída do restaurante, o salto de uma das sandálias partiu-se. Nem queria acreditar! Completamente novas! Como a sapataria era distante peguei nas sandálias e levei-as ao sapateiro mais próximo. 

Depois do seu conserto voltei a calçá-las. E eis que, novamente à hora de almoço (!!!), parte-se o salto da outra sandália. Se da primeira vez não queria acreditar, agora não sabia mesmo como expressar os meus sentimentos!... 

 De facto, eu não disse à vendedora que queria umas sandálias para trazer o dia inteiro ou cujo salto tivesse resistência suficiente para se poder fazer um pequeno percurso. Não me pareceu que fosse necessário. Está implícito, eu diria mesmo ser obrigatório, que um par de sandálias consiga resistir a passeios a pé por um período superior a um dia... Eram de facto confortáveis e esteticamente muito agradáveis, mas não conseguiram responder ao que eu esperava delas, o que, no caso, nem sequer era nada de especial relativamente ao que qualquer pessoa exigirá quando compra um par de sandálias. 

Resumindo: podiam ter várias qualidades mas não tinham qualidade, pois não respondiam às minhas “… expectativas … implícitas…” logo, para mim, não tinham Qualidade. "

A definição constante da NP EN ISO 9000:2015 vem confirmar o que acabo de dizer:
Qualidade: Grau de satisfação de requisitos dado por um conjunto de características intrínsecas de um objeto.

Se procurarmos na mesma Norma a definição de requisitos e características vamos encontrar:
Requisito: necessidade ou expetativa expressa, geralmente implícita ou obrigatória,

e
Característica: elemento diferenciador. | Objeto: Qualquer coisa percetível ou concebível.

donde:

Qualidade: Grau de satisfação de necessidades ou expetativas expressas, geralmente implícitas ou obrigatórias, dado por um conjunto de elementos diferenciadores intrínsecos de qualquer coisa percetível ou concebível.

Obviamente, o grau de satisfação referido na definição é o grau de satisfação do cliente. E será tanto maior quanto maior for o número de elementos diferenciadores intrínsecos ao produto ou serviço adquirido, que corresponda ou ultrapasse aquilo que o cliente esperava.

... Como já referi, gosto de comparar os Sistemas de Gestão da Qualidade e os seus requisitos com a vida.

Será que  Qualidade é um conceito que se pode aplicar às relações amorosas? Será que existe uma forma de identificar se uma relação amorosa tem qualidade ou não?

... continua.

Lurdes Antunes, Qualidade para Principiantes 3ª edição, Edições Sílabo, 2019



Nota: Em Portugal, as Normas relativas a Sistemas de Gestão da Qualidade devem ser adquiridas junto do Instituto Português da Qualidade.